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terça-feira, 28 de junho de 2016

Omelete levanta os segredos do sucesso de Game of Thrones



É uma estrutura simples que sustenta o universo fantástico criado por George R. R. Martin na TV. Sejam intrigas políticas e familiares ou dragões e mortos-vivos, tudo em Game of Thrones se equilibra sobre um sistema de recompensas. É o carma que segura o espectador desde a primeira temporada.
As tragédias são muitas, com uma extensa lista de óbitos escrita ao longo de seis anos, mas na série da HBO, tudo o que se faz, se paga. 
Ramsay Bolton (Iwan Rheon) torturou e matou, destruiu vidas por esporte, e a hora de acertar suas contas chegou. Ser comido pelos próprios cachorros foi uma conclusão quase óbvia para o personagem, porém não menos satisfatória para o público, testemunha ocular de todas as suas maldades. O sorriso de Sansa Stark (Sophie Turner) ao ouvir os gritos de dor do seu algoz também era o sorriso do espectador.
A catarse em Game of Thrones vem da retribuição extrema a situações extremas. Seus heróis sobrevivem as maiores provações para que a sua volta por cima seja o alívio de quem assiste, seus vilões cometem as maiores atrocidades para que sua destruição seja um deleite. 
Zombado por todos e desprezado pela própria família, Tyrion Lannister (Peter Dinklage) vingou-se da pompa paterna ao matar Tywin Lannister (Charles Dance) no lugar onde todos os homens, nobres ou plebeus, são iguais. Agora se prepara para retornar triunfante e respeitado a Porto Real como o Mão da Rainha, ajudando Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) a conquistar o trono. Joffrey Baratheon (Jack Gleeson) foi a irritante causa dos dramas alheios por anos, até morrer sufocado e roxo no colo da sua igualmente maléfica mãe.
Ou seja, a série entrega exatamente aquilo que o público quer/precisa ver, e não há nada de errado nisso. Para cada vez que Daenerys perdeu tudo, ela teve um momento de retorno glorioso, seja renascendo do fogo ou voando no seu dragão. São situações de alcance universal, não importa o contexto fantástico em que estão inseridas. É o puro prazer de ver a vitória do marginal, algo que não exige conhecimento dos pormenores do mundo criado por Martin. SeGame of Thrones é hoje uma das maiores séries da TV, o segredo não está na complexidade do seu universo, com suas casas, sobrenomes, religiões e povos ancestrais, mas na simplicidade da sua lógica.
O arco de Jon Snow é outro exemplo. “Quando minha família fazia banquetes eles se sentavam aqui. Eu me sentava lá”, desabafava ele para Melisandre após a retomada de Winterfell. Carregando o peso de ser um bastardo para a Patrulha da Noite e além da Muralha, Jon Snow voltou dos mortos, venceu uma batalha considerada perdida contra Ramsay e terminou a sexta temporada como o Rei do Norte. 
Sem contar a revelação, pelas visões de Bran (outro dos Stark que ainda sofre para triunfar), de que ele é muito mais do que um filho ilegítimo. A confirmação da teoria há muito debatida pelos fãs é o aceno final do sistema que rege a trama: o eterno rejeitado tem sangue nobre.
Grandes séries como Lost perderam seu público por trocar consistência por reviravoltas que nem sempre mostravam retorno. Já Game of Thrones vem crescendo ao longo dos seus seis anos por saber que, às vezes, o certo é melhor do que o duvidoso. 
A história tem peso pois o espectador se importa com seus personagens a as reações às suas ações, tornando aceitáveis “defeitos narrativos” como a linha temporal questionável ou soluções exageradamente pontuais (como a chegada dos Cavaleiros do Vale na Batalha dos Bastardos). 
Que venham mais recompensas na sétima temporada. Cersei (Lena Headey) está lá sentada no Trono de Ferro esperando para pagar o resto dos seus pecados.
Extraído do Omelete. Texto de Natalia Bridi.

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