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terça-feira, 7 de maio de 2013

Configurando a notícia


Conceito de notícia
Para se compreender o conceito de notícia é necessário pensar, inicialmente, que através dos seus diferentes dispositivos, o jornalismo confere notoriedade a determinadas ocorrências, idéias e temáticas, tornando habitual o consumo de informações. De fato, o Jornalismo tem um espaço significativo na vida das pessoas e as matérias dos jornais, rádios, televisões etc ocupam um papel relevante na imagem que elas constroem da realidade.
De modo geral, encontramos ainda uma visão empírica de notícia, a ponto de certos  autores entendê-la como “tudo aquilo que interessa ao público”. É evidente que assim o problema não está resolvido, sequer bem colocado. Podemos começar contestando: o que interessa ao público? A que tipo de público, em que circunstâncias políticas, sociais e históricas?
Michael Schudson (1988) escreveu que poderíamos explicar as notícias em função de três tipos de forças interligadas e atuantes mutuamente: uma ação pessoal, uma ação social e uma ação cultural.  Desta forma, e com base na perspectiva do autor, seria possível traçar um quadro explicativo sistemático e global para termos as notícias que temos em cada meio sócio-cultural e em cada momento histórico.  Isto é, com base no modelo schudsodiano não só podemos identificar os principais fatores de influência no processo de construção e fabricação das notícias como também podemos integrar essas explicações num paradigma explicativo, com contornos de teoria científica, que se sirva de determinadas denominações desses fatores para se tornar de mais fácil apreensão e compreensão.
1. Ação pessoal – as notícias resultam parcialmente das pessoas e das suas intenções;
2. Ação social – as notícias são fruto das dinâmicas e dos constrangimentos do sistema social, particularmente do meio organizacional, em que foram construídas e fabricadas;
3. Ação ideológica – as notícias são originadas por forças de interesse que dão coesão aos grupos, seja esse interesse consciente e assumido ou não;
4. Ação cultural – as notícias são um produto do sistema cultural em que são produzidas, que condiciona quer as perspectivas que se têm do mundo quer a significação que se atribui a esse mesmo mundo;
5. Ação do meio físico e tecnológico – as notícias dependem dos dispositivos tecnológicos que são usados no seu processo de fabrico e do meio físico em que são produzidas;
6. Ação histórica - as notícias são um produto da história, durante a qual interagiram as restantes cinco forças que formam as notícias que temos (ações pessoal, social, ideológica, cultural e tecnológica).
A seguir, optamos pela sistematização proposta por Ana Carolina Rocha Pessoa Temer (“Reflexões sobre a tipologia do material jornalístico: o jornalismo e as notícias. Disponível em http://www.portcom.intercom.org.br/ojs-2.3.1-2/ index.php/revistaintercom/article/view/280/ 273. pdf.).
Etimologicamente, notícia é a “informação, notificação, resumo de um acontecimento, ou de um assunto qualquer. Novidade, nova. Lembrança, memória”, enquanto fato é a “coisa ou ação feita, sucesso, caso, feito. Aquilo que realmente existe, que é real” (HOLANDA, 1985).
Vale Serra (1993, p. 17) atenta que há um “leque bastante amplo de definições para notícia demonstra que, a exemplo da palavra fato, tudo é ou pode ser notícia... os telejornais não poderiam, evidentemente, atender àquelas definições em sua plenitude, isto é, no que diz respeito às palavras fato e notícia”.
Stephens (1993, p. 30) define notícia como “nova informação a respeito de um assunto que possui algum interesse público e que é transmitida para uma porção deste público”. Maciel (1995, p. 43), no rodapé do seu livro, define que “notícia é, por definição, fato novo de interesse social”. Um conceito igualmente abrangente é dado por Van Dijk (1996a, p.17): “um item ou informe jornalístico, como por exemplo um texto ou discurso numa rádio, na televisão ou no jornal diário, no qual se oferece uma nova informação sobre acontecimentos recentes”.
Lustosa (1996, p. 17) assume a questão de outro ângulo: “para reduzir a definição ao mínimo possível, diríamos que notícia é a técnica de relatar um fato. Para sermos ainda mais concisos, diríamos simplesmente que notícia é relato, não é fato”. Também Lage (1982, p. 36) define notícia como “o relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante ao seu aspecto mais importante”.
Erbolato (1985, p. 48), citando Frank Mott, afirma que “a notícia é o relato de qualquer coisa. Inclusive pode ser uma nova fase de uma coisa antiga, como a abertura de um túmulo de Tutankhamen ou a declaração atualizada de um pensamento antigo”. Nesse caso, embora se refira a questões antigas, o novo surge pela mudança ou alteração de um dado. Dessa forma, a declaração de Silva (1998, p. 21) complementa a idéia definindo que: “A notícia é intrinsecamente um relato de um fato novo, apesar de já no passado. Novo no sentido de ser desconhecido do público para a quem a notícia se dirige”.
Marcondes Filho (1986, p. 13) define a “notícia é a informação transformada em mercadoria com todos os seus apelos estéticos, emocionais e sensacionais”. Ainda que caminhe por processos teóricos diferentes, a semiótica nos dá uma interpretação semelhante. Falando especificamente no caso do telejornalismo, Lins (2000, p. 69) lembra que “o fato, o acontecimento, corresponderia ao real, enquanto a notícia seria a representação sígnica dessa realidade, signos que estão nomeando, portanto, algo que não está presente: o próprio fato”. De fato, este é um conceito semelhante ao de Requena (1989, p. 7) para quem “a notícia é um discurso e, enquanto tal, nomeia algo que está ausente”.
O Dicionário da Comunicação (RABAÇA; BARBOSA, 1978, p. 324) define notícia como: “relato de fatos ou acontecimentos atuais, de interesse e importância para a comunidade e capaz de ser compreendido pelo público [...] A notícia não é o acontecimento, ainda que assombroso, mas a narração deste acontecimento. A notícia é tudo que o público deseja saber. A essência pois da notícia está determinada pelo interesse público”.
Mas estas não são as únicas definições: Aor da Cunha (1990, p. 11-12) chega a listar 14 definições, incluindo a clássica frase “If a dog bites a man, that’s not news; if a man bites a dog, that’s news”.
A Teoria do Espelho
As definições de notícia podem ser resumidas a partir de dois grandes grupos: de um lado aqueles que defendem a concepção da notícia como espelho da realidade, de outro a notícia seria percebida como parte da construção desta realidade. A idéia de notícia como espelho da realidade corresponde à concepção tradicional de notícia tendo a objetividade como ponto chave da atividade jornalística. Esta objetividade também pode ser confundida com imparcialidade, componente controverso e polêmico entre profissionais e pesquisadores do Jornalismo. Sobre este item, Alsina ressalta que dentro desta concepção de notícia como espelho da vida real, o máximo que se deve admitir é a possibilidade de que nelas apareça o ponto de vista do jornalista. Além disso nesta concepção, a notícia, apresenta-se como algo já realizado. Traquina indica que essa é a “(...) teoria mais antiga e responde que as notícias são como são porque a realidade assim as determina”.
A seguir algumas características dessa visão teórica sobre o conceito de notícia:
- Origem da teoria  (relacionada com o desenvolvimento da indústria do jornal nos séculos XIX e XX: Crescimento da circulação massiva de jornais; internacionalização da coleta das notícias; aumento da competição, século XX: Ideal da objetividade - entendida como método criterioso de pesquisa e de checagem dos fatos, método criado para um mundo no qual nada merecia con?ança, nem os fatos).
- Deixa-se de lado o trabalho simbólico do jornalismo (Trocado pela fórmula do 3Q+COP)
- Defende a objetividade do jornalismo
- Jornalista é um comunicador desinteressado (conta “a verdade”, independente de quem afeta)
- Concepção dominante no jornalismo ocidental
- Os jornalistas apresentam:
–         versões diferentes de uma mesma realidade
–         provas suplementares para fundamentar um fato
–         aspas para indicar que dá sua versão do fato
–         fatos mais importantes primeiro
–         separam cuidadosamente os fatos das opiniões (rótulo de informação opinativa)
- Novo paradigma de notícias como informação
–  Substitui MCM como arma política
              - Substitui jornalista como militante partidário

Fonte: Estácio Textos.

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