Extraído do Box de Séries
No início, Cristina Yang só pensava em operar, crescer, aprender. Seu interesse por dramas e causas profundas era praticamente nulo em contraste com os outros quatro personagens que formaram o primeiro quinteto de internos de Grey’s Anatomy. Acostumados às tramas que ‘seguem o curso natural dos acontecimentos’, era de se esperar que ela fosse a “vilã” da história. Mas – para a nossa sorte – não foi exatamente isso que aconteceu. Cristina se mostrou uma personagem extremamente corajosa, tridimensional, complexa, competitiva, ambiciosa, focada e brutalmente honesta.
Ela segue uma longa linhagem de personagens femininas que não foram iniciadas, mas passam por Murphy Brown (quem conhece essa se torna meu amigo imediatamente), Julia Salinger (deParty of Five), Ellen (The Ellen DeGeneris Show), Starbuck (Battlestar Galactica) e Jackie (Nurse Jackie), que simplesmente não se enquadram no perfil comum do que se espera tradicionalmente de uma mulher. Elas não foram definidas por seu gênero, mas por suas personalidades.
Em séries que seguem arquétipos batidos, esse conjunto de características tornaria ela a antagonista perfeita, mas Shonda Rimes – criadora do show – ainda inclui na personagem humor, ironia fina, apelo sentimental e sex appeal, que a torna “gostável” e, mais do que isso, a melhor amiga da sofrida e sombria personagem principal.
Com tudo isso em mente, vamos analisar por que sentiremos falta de Cristina Yang em Grey’s Anatomy!
Porque ela teve coragem de desafiar padrões
Uma mulher oriental competitiva e focada facilmente cairia no padrão “coldheart bitch“e Cristina não se afastou do padrão. Ela ampliou-o. Nas primeiras temporadas teve um caso com seu chefe direto (o que se tornou uma obrigação para outros personagens da série tempos depois). Quando engravidou de Burke (o tal chefe), ela marca um aborto, mas antes que possa levá-lo a frente descobre problemas e aborta espontaneamente. Ela é convencida a casar por seu noivo e abandonada no altar por deixar claro que casamento não era exatamente sua praia. Quando não concorda com seus superiores, ela bate de frente, como fez tanto com Teddy Altman quanto Erica Hahn, chefes de cardiologia. E mais importante, na penúltima temporada ela abortou mesmo. Focada em ser a melhor cirurgiã cardíaca que puder, ela simplesmente não que ter filhos, nem que por isso perca o amor de sua vida. Então, novamente grávida, ela procura uma clínica e aborta… no horário nobre de um programa muito visto dos EUA em sua oitava temporada! Muita coragem!
Porque ela é a representação de uma mulher moderna
Sobre casar de vermelho: “Eu não vou usar branco! É sexista e ligeiramente racista!
Cristina é multifacetada e representa bem quem são as mulheres atuais que vivem segundo sua proposta e não como a vida lhes é imposta. Sobre a modernidade da personagem, Sandra Oh, sua intérprete, fala para o EW: “Eu sinto que Cristina – que não representa o papel tradicional da mulher – é essencial para o momento em que nós estamos enquanto mulheres. Uma mulher não é definida por sua carreira ou por seu papel de mãe ou esposa. É a proposta de ver seus papéis e sua personalidade como um todo. E eu gosto das diferenças entre Cristina e Meredith porque essa relação permite que se vejam múltiplas facetas de escolhas que uma mulher pode fazer. “
Porque ela é irônica, autoconfiante, sarcástica e tem as melhores frases
Shonda Rimes adora a personagem e é amiga pessoal de Sandra Oh. Talvez por isso suas falas sejam sempre sensacionais.
Ela pode te dar lições de moral…
…ensinar a tornar esportes mais interessantes…
…dançar…
…cantar (sem backing vocal, Lexie)…
…mostrar que não tem coração…
…e que tem coração…
…tudo ao mesmo tempo. E essa mistura de emoções não torna a personagem aleatória ou desfocada; pelo contrário, traz profundidade e realismo a ela. Graças a Sandra Oh, que se encarrega muito bem de viver todos esses sentimentos. Por falar nisso…
Porque ela é interpretada por Sandra Oh
A mulher ganhou Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante em 2005, dois Screen Actors Guild Award e foi indicada para Emmy, Satelite e o que mais você quiser. Seu trabalho é reconhecido não só pelo papel de Cristina, mas por outras produções importantes, especialmente o filme Sideways(filmão com excelente trilha sonora onde ela faz umas cenas bem safadinhas… recomendo). O peso do nome da atriz realmente vai fazer falta entre o elenco.
Porque, com sua saída, é o fim de Grey’s Anatomy como conhecemos
Grey’s Antomy seguiu seu curso. Foi um seriado excelente que teve altos e baixo comuns a séries tão longas, e que se desgastam com o tempo. Sua audiência se dá hoje em grande parte ao apego emocional com a permanência inacreditável de boa parte de seu elenco original, mas isso está acabando. A saída de Sandra Oh e as declarações de Patrick Dempsey, outro dos atores originais, podem indicar que um fim se aproxima. E esperamos que ele seja coeso com o que a série representou, trazendo histórias satisfatórias para todos os seus personagens e não tentativas de manter o show no ar a todo custo modificando suas características originais (abraço para os fãs deTwo and a Half Men) ou pior, colocando personagens para ocupar a “cadeira” de características de personagens que saíram do show (como a relação de amizade que aparentemente irá surgir entre Callie e Meredith nessa nova temporada).
Qual desastre Shonda estará preparando para Cristina? Comida por um Tiranossauro? Esfaqueada por uma trupe de anões palhaços? AVC depois de ouvir Anita e o Show das Poderosas? Será queGrey’s Anatomy sobrevive sem a personagem? Vamos acompanhar quando ela retornar para sua décima temporada dia 26 de setembro no canal americano ABC.
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