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sábado, 9 de março de 2013

Teorias do Jornalismo - Uma Introdução


Sobre a construção social da identidade jornalística, é importante perceber que nos dias atuais, a participação do jornalismo na transmissão e interpretação dos fatos e acontecimentos sociais, torna a atividade uma propulsora de idéias e opiniões em relação à realidade cotidiana. Os profissionais que fazem parte da comunidade interpretativa jornalística formam um contingente que organiza sua atividade pautada em características e concepções não só pautadas pela realidade que apresentam, mas por interpretações próprias de seus participantes. Assim, o mundo dos jornalistas tem merecido atenção não só dos pesquisadores, mas também da sociedade em geral, que o concebe a partir de uma determinada perspectiva.
Travancas (1992) num estudo sobre a identidade do jornalista e em que ela está na ancorada oferece interessante pistas sobre o tema. Por exemplo, o fato de determinadas carreiras significarem bem mais do que uma atividade de emprego na vida de seus profissionais, gerando um envolvimento que resultará num estilo de vida e numa visão do de mundo específicos. É o caso do jornalista. Assim, a aquilo que surge como possível manifestação de um ideal nobre pode também recobrir uma visão mitificada e romântica dos jornalistas e do jornalismo ou, em todo o caso, exprimir uma dificuldade de refletir de forma mais complexa e menos dicotômica a relação da atividade profissional com as condições concretas do seu exercício.
Assim, o conteúdo deverá ser apresentado a partir da exposição dos seguintes pontos:
1) A visão mitificada do jornalismo
Expressões que se ouvem por ai, tais como: “Cães de guarda da sociedade'', “princípio da responsabilidade social'', imprensa como o “Quarto Poder'' estão ligadas ao ideário romântico do jornalismo. De acordo com essas concepções, o jornalista teria um status diferenciado das demais profissões. Ele estaria, por princípio, comprometido com a sociedade - que lhe delega o poder de fiscalizar as instituições em seu nome - e com os valores democráticos.
Bill Kovach e Tom Rosenstiel (2003) elaboraram uma lista com nove itens fundamentais para o exercício da profissão e que ilustram bem esse espírito de missão: A primeira obrigação do jornalismo é a verdade. 2. Sua primeira lealdade é com os cidadãos. 3. Sua essência é a disciplina da verificação. 4. Seus profissionais devem ser independentes dos acontecimentos e das pessoas sobre as que informam. 5. Deve servir como um vigilante independente do poder. 6. Deve outorgar um lugar de respeito às críticas públicas e ao compromisso. 7. Tem de se esforçar para transformar o importante em algo interessante e oportuno. 8. Deve acompanhar as notícias tanto de forma exaustiva como proporcionada. 9. Seus profissionais devem ter direito de exercer o que lhes diz a consciência.
Em contraposição à visão acadêmica, a formação mitificada da identidade jornalística manifesta-se, principalmente, pelos seguintes aspectos:
a) Efeito dos filmes norte-americanos: aura de prestígio com a idéia de cosmopolitismo, convívio com os poderosos e/ou importantes, vida de emoções e aventuras, contato com o lado escondido da sociedade.
b) Efeito de outras narrativas que construíram a idéia do jornalista como: cavaleiro andante e justiceiro, escritor, polícia e vigilante, juiz, militante.
2) O papel social do jornalismo
O jornalismo tem quatro razões de ser fundamentais: informar, interpretar, orientar, entreter. Ele realiza outras funções importantes como a circulação de anúncios e a difusão de um grande volume de informações e comentários que dificilmente podem ser enquadrados no conceito geral de notícia. Difundir notícias é o primeiro objetivo do jornalismo. Como definiu a Sociedade Americana de Diretores de Jornais: “a função primordial dos jornais é comunicar ao gênero humano o que seus membros fazem, sentem e pensam”.
É em virtude desta função de noticiar que o jornalismo goza da proteção das constituições federal e estaduais. A sociedade dá sua proteção à Imprensa devido à responsabilidade desta em fornecer as notícias.
A discussão do papel social do jornalismo passa pela dimensão ética que, segundo Eugênico Bucci (2000), o jornalista tem para com a sociedade a responsabilidade de: auxiliá-la em suas decisões, enriquecê-la culturalmente, colaborar com o fortalecimento da cidadania, divulgar aquilo que de alguma forma possa contribuir para a ela, denunciar o que possa vir a ser prejudicial e, sobretudo, se responsabilizar por tudo o que divulga. Para ele, devemos “pensar o jornalismo como um ofício que, acima de tudo, não é uma técnica, mas é (e deve ser) uma práxis ética”.
Da visão acadêmica sobre a identidade jornalística, podem-se destacar os seguintes aspectos:
a) A questão da liberdade de imprensa: com a teoria democrática, os jornalistas assumiram o papel de porta-vozes da opinião pública, dando expressão às diferentes vozes, vigiando o poder político contra os abusos dos governantes e fornecendo informações para o exercício cívico. Assim, o jornalismo faz valer o Direito à Informação. Isto é, cabe ao jornalista obter e fazer circular a informação. O público tem direito a informação, e esse é o ponto crucial na formação de uma sociedade mais crítica.
b) A credibilidade jornalística: a idéia de credibilidade jornalística é antiga, remontando ao século XVII, quando se tornaram mais comuns os periódicos com notícias e informações. Com o passar dos séculos, os jornais deixaram de ser opinativos para transformarem-se em empresas jornalísticas que noticiam informações do mundo social, conseguindo assim se aproximar de um maior público (conforme se observou na segunda aula). Com isso, o jornalismo ganhou credibilidade. E o jornalista passou a ser o profissional capacitado para escrever de modo diferente e não comprometido com interesses de qualquer grupo social ou político. Neste ponto, repousa a idéia de imparcialidade e verdade. Ou seja, a técnica jornalística é baseada no princípio da neutralidade e, portanto, o jornalista deve manter-se neutro diante daquilo que noticia. No entanto, é comum identificarmos a imparcialidade de discursos tendenciosos nos meios de comunicação com o intuito de favorecer algum conglomerado político ou empresarial diante a opinião pública.
c) A promoção do bem comum: Bahia (1990) acrescenta que o jornalismo, além de difundir informação, deve promover o bem comum e estimular a troca de idéias, pois é seu “dever mostrar a realidade por trás da aparência”. Assim, o jornalista legitima seu papel social agindo em defesa do interesse coletivo e do bem comum. Campbell (1991) observa que os repórteres assumem a função de mediador entre os acontecimentos e o público, legitimando a imprensa como instituição de poder no campo social. Esse processo de autoconstrução dos profissionais como enunciadores privilegiados da verdade do mundo se relaciona com a formação da autoridade cultural dos jornalistas. Para Zelizer (1992), os jornalistas atuam como porta-vozes legitimados e confiáveis da verdade do mundo, uma "verdade" que não poderia ser ofertada ao público não fosse a atuação da imprensa.
3) O lugar do jornalismo público e cívico
O conceito “jornalismo público” ou “jornalismo cívico” surgiu nos Estados Unidos, em 1990, criado pelo David Merrit, editor-chege do Wichita Eagle, da cidade de Wichita (Kansas). Entre outros fatores que contribuíram para o seu surgimento, estava o declínio da leitura de jornais, mas os seus objetivos principais não estavam relacionados a problemas econômicos, mas sociais e comunitários, entre outros, a necessidade de motivar os norte-americanos para o voto, que para eles é facultativo.
Identificado em suas origens ora como civic journalism, ora como public journalism, o jornalismo público ainda não encontrou no Brasil nem uma tradução definitiva nem uma compreensão do que ele representa enquanto função, área de cobertura e campo profissional. Há indicadores, no entanto, de que algumas práticas jornalísticas da chamada “grande imprensa” brasileira começam a assentar as bases para o que, entre nós, poderia vir a se chamar de jornalismo público.
É interessante notar que embora a imprensa brasileira tenha importado modelos e jargões, sobretudo os norte-americanos, não está fazendo, no caso do jornalismo público, uma simples cópia ou mesmo uma adaptação de um paradigma que se possa considerar pronto e acabado. Dessa forma, pode-se dizer que, no Brasil, o jornalismo público está emergindo com características próprias e, ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos, não houve, aqui, intenções e ações visando especificamente fundar uma categoria jornalística.

Original: Estácio Textos.

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