O perdão é algo tão poderoso que tem efeitos positivos diretos na vida de quem perdoa e danosos na vida de quem não perdoa. A pessoa que não perdoa facilmente se denuncia.
Primeiramente, pela face, porque a primeira coisa que vai embora do rosto daquele que acumula mágoa é o brilho e o sorriso espontâneo e gentil.
Em segundo lugar, basta alguns minutos de conversa para que a pessoa esteja revele o interior, mostrando suas dores e ofensas não curadas no coração. Aos poucos surgem críticas, nomes, defeitos, inveja, sentimentos e traços negativos de quem está perdendo o melhor da vida e não está vendo.
Uma das faces ocultas da falta de perdão e que cega o indivíduo é que o maior prejudicado é ele mesmo, aquele que não perdoa. Essa pessoa fica cada dia mais ilhada, cercada de outros que carregam o mesmo sentimento. Por vezes, esse “adoecimento” da alma começa com uma ofensa não tratada, se desenvolve em uma mágoa e gera ao longo dos anos um rancor, que por si mesmo promove a inveja, normalmente nunca admitida, e que se não for tratada, chega ao ódio.
Esse pecado, se não confessado e deixado, se transforma em uma ferida que dificilmente não deixará cicatrizes. A falta de perdão tem a capacidade de envelhecer uma pessoa jovem. Aos poucos, esse indivíduo vai se achando superior, pois para o orgulho ferido e falta de perdão, apenas os outros precisam mudar.
Você tem facilidade para lidar com o perdão? Acredito que a resposta seja “não”, porque lidar com o perdão não é uma tarefa tão fácil. Todavia, perdoar é um dos atos básicos da fé cristã. Nossa entrada na vida cristã só foi possível porque recebemos perdão de nosso Deus e Pai.
Trata-se de um assunto bem tratado e claro em toda a Escritura Sagrada. Deus nos perdoou, mediante a obra de seu Filho Jesus, feita na cruz do Calvário em nosso favor. Amor e perdão sempre caminham juntos. “Deus é amor”, é a mais formosa definição que a Bíblia apresenta. E a maior prova do Seu amor para conosco foi perdoar todos os nossos pecados.
Porque Ele nos ama, Ele nos perdoou. O perdão é, então, um atributo comunicável de Deus para todos nós.
Perdoar é um mandamento da Palavra de Deus. Não é um sentimento, nem depende da nossa vontade ou emoção, mas é fruto de uma decisão de obediência a Deus e Sua Palavra. A Bíblia diz: “Sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo vos perdoou” (Efésios 4.32).
E também: “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha queixa contra outrem. Assim como o Senhor nos perdoou, assim também perdoai vós” (Colossenses 3.13).
Quando Deus nos perdoou, colocou um fim à situação desastrosa em que nos encontrávamos, pois, estávamos condenados a morte como consequência do nosso pecado de desobediência. Deus nos chamou para uma nova vida, na qual o amor e o perdão sempre têm a sua máxima expressão.
Perdoada a nossa ofensa, o relacionamento amoroso que nos une ao Pai Eterno foi restaurado. Diante desse ato de misericórdia e amor imerecido devemos, do mesmo modo, estender perdão a todo aquele que nos ofender. O perdão de Deus deve gerar em nosso coração o desejo de perdoar, incondicionalmente, tal como Ele fez conosco.
Perdoar significa deixar de considerar o outro com desprezo ou ressentimento. É ter compaixão, deixando de lado toda a ideia de vingar-se daquilo que foi feito ou das consequências que sofremos.
O perdão é libertação para nossa alma e para nossa vida interior. A base para o ato de perdoar é o completo e livre perdão que recebemos do Pai. Assim como Ele nos perdoou, nós perdoamos. Como filhos de Deus, o perdão que expressarmos deve ser análogo ao Seu perdão: “Perdoando-vos uns aos outros como, também Deus, em Cristo, vos perdoou” (Efésios 4.32), ensina o apóstolo. É inconcebível viver sob o perdão de Deus sem perdoar ao próximo.
Quando Jesus ensinou Seus discípulos a orar, colocou um pedido ao Pai: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado os nossos devedores” (Mateus 6.12). É esse espírito de perdão que deve permanecer em nós. Se o Pai, antecipadamente, nos perdoou quando não éramos merecedores, em gratidão ao Seu amor perdoador, devemos também perdoar aos que nos ofendem.
O perdão deve ser uma característica do nosso viver cristão. Se o amor perdoador de Cristo foi sacrificial – Ele se deu por nós –, da mesma forma devemos expressar amor dando-nos, em amor, por aquele que nos ofendeu.
Quando devemos perdoar? Há dois momentos, em especial, que o perdão deve se expressar:
• No momento em que somos atingidos, ou injuriados, maltratados, ofendidos e perseguidos. O exemplo de Estêvão mostra que ele perdoou no mesmo momento da agressão recebida: “Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado” (Atos 7.60). Apedrejado até a morte, Estevão não pensou em si, apenas na situação dos agressores diante de Deus; perdoou-os e rogou por eles. Eis aí manifesto o mais elevado e magnífico espírito cristão de perdão. Esse primeiro mártir da fé cristã imitou o Senhor Jesus, que orou na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23.34).
• Quando aquele que ofendeu pede perdão. Devemos estar preparados para perdoar, tão logo nos for solicitado o perdão. Deve ser uma atitude imediata e sem guardar ressentimento algum. Isso se expressará mais facilmente na medida em que amadurecemos em nossa vida espiritual. O perdão tem de ser um ato de nossa vontade disciplinada. Ele não é um sentimento, nem é facultativo. Ele resulta em colocar a nossa vontade sob a vontade de Deus.
Quantas vezes devemos perdoar? Essa foi a pergunta que Pedro fez a Jesus. A resposta do Senhor trouxe algo novo, demonstrando que já não estamos sob a Lei, mas sobre a graça de Deus. “Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mateus 18.21, 22).
Se a Lei determina um número de vezes para perdoar, o Evangelho de Cristo não determina números, mas a aplicação do amor em grau infinito. E o perdão a si próprio? Muitas vezes, antes de podermos perdoar os outros, devemos perdoar a nós mesmos. Habitualmente, somos mais duros conosco do que com os outros. Devemos recordar que Cristo nos perdoou. Mateus 22.39 nos ensina: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”.
Precisamos sentir que Ele nos ama e já nos perdoou. Para que isso ocorra, devemos lembrar a posição em que Deus já nos colocou: “Nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Efésios 2.6). Precisamos nos ver como somos aos olhos de Deus e não segundo os nossos incorretos sentimentos. Em Cristo está a nossa vitória!
Quem perdoa vive mais e melhor, vive por cima e não por baixo. Vive para o céu! Perdoar é essencial ao nosso bem estar interno e ao testemunho externo da igreja. Sem essa prática, as ervas daninhas da amargura, do ódio e do ressentimento impedirão que você desfrute de uma vida plenamente feliz.
Você não pode obrigar que todos gostem de você, ou mesmo que aceitem seu perdão; porém, o seu coração precisa estar livre para dar e receber. Com 43 anos de idade e 21 de ministério pastoral, imagine quantas vezes precisei e preciso viver esse mandamento de Deus para poder prosseguir e continuar?
Perdoar não é gostar do estilo de vida do outro, perdoar é poder orar para que Deus abençoe e prospere aquele que deseja o seu mal. Perdoe e sua vida será transformada e sua fé, fortalecida! Que Deus nos ajude!
Fotos: Internet
:: Carlito Paes
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