As séries médicas estão sem dúvida entre os gêneros mais assistidos das séries de TV. Sendo representadas das mais variadas formas possíveis, o Com Texto e História desta semana busca descobrir o porquê desta fórmula de sucesso, que atrai espectadores fazendo-os interessar cada vez mais pelo mundo da medicina, e o que é ou não real dentro deste universo da TV…
Popularizado nos Estados Unidos e na Inglaterra durante os anos 1960, as séries médicas se tornaram sucesso, com os shows Emergency Ward – 10 e Dr. Kildare. A partir desta época, o gênero se alastrou como uma epidemia. No Brasil, o seriado nacional Mulher, nascida de uma sugestão de Daniel Filho e de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho exibido pela Rede Globo, se tornou um sucesso de crítica e público no final dos anos 1990.
Entretanto, sem sombra de dúvidas, um dos seriados médicos mais conhecidos em todo mundo éER, que em terras tupiniquins ficou conhecido como Plantão Médico, mostrando o dia-dia de uma emergência de um hospital em Chicago. Durando 15 temporadas, o seriado da NBC criou fama, definiu conceitos e reabriu a fila do gênero, inspirando outros grandes sucessos, como Grey’s Anatomy, House… Além disso, comédias como Scrubs, E/R, entre outras, chegam a abordar o tema, de forma mais humorada. É até interessante destacar que muitas vezes, eles foram protagonistas de duelos por audiência, como a famosa briga de Chicago Hope e ER, que brigavam pela audiência nas noites de quinta da TV americana, lá em 1994.
Grey’s Anatomy, ER, Dr. House figuram entre as séries médicas mais famosas da TV.
Mas a que deve este enorme sucesso? Obviamente, a trama que circunda o texto médico nestas séries é um fator chave.Grey’s Anatomy por exemplo, usa e abusa do lado pessoal dos médicos para cativar seus espectadores. Fórmula esta que dá certo de 2005, e que transforma o drama criado por Shonda Rhimes em uma das séries mais lucrativas do canal ABC. O sucesso, é tão grande que a série chegou a ter um spin-off já finalizado (Private Practice), que mostrava o cotidiano de uma clínica privada de médicos. O fundamental nestas séries é levar este universo, a pessoas que talvez se veja em outro nível destes profissionais, que acabamos sempre tendo contato. Mesmo que, por vezes, certos procedimentos sejam criticados por não serem mostrados de uma maneira correta, a série médica é hoje, um dos grandes vínculos que permite uma conexão entre paciente e médico.
O clínico geral e de emergência, Marcos Roberto Marques, formado pela Universidade Federal de Santa Catarina em conversa com o Box de Séries, diz que é divertido ver determinados temas sendo discutidos em uma série que retrata o cotidiano hospitalar. E que também, os médicos se deparam com situações completamente fora da realidade, mas que a série médica serve como um importante instrumento para aproximar as pessoas desta área. Sobre a realidade das séries de TV, o médico comenta: “Se pensarmos no cotidiano de estrutura hospitalar, primeiro temos que entender que se trata de séries americanas, logo, se insere melhor no cotidiano do país deles. Embora os dilemas sejam parecidos como casos difíceis ou os dramas de pacientes, por exemplo, o cotidiano médico do Brasil é muito distante do que vemos numa emergência em E.R., citando uma destas séries. Aqui faltam equipamentos, os serviços são superlotados, a população tem um ressentimento maior contra a classe por achar que somos culpados pela demora no atendimento, entre outros”, diz o clínico.
Sobre a personalidade dos protagonistas e o cotidiano pessoal nos hospitais, o médico ressalta que, as séries funcionam em determinados pontos. Médicos com personalidades como o Dr. House ou personagens de Scrubs são encontrados em hospitais, que segundo ele chegam a ser estereótipos, mas nada exagerado.
O médico Marcos Marques adora séries médicas como House e Scrubs.
E sobre os famosos relacionamentos, o que o clínico tem a nos dizer? “As famosas cenas de sexo nos hospitais, em plantões durante o trabalho? Isso não acontece. Somo muito cobrados quanto à conduta dentro do hospital. Imaginar uma cena de sexo entre dois médicos num plantão é tão surreal quanto imaginar sexo entre o entregador de pizza e a dona do apartamento. É mais um fetiche do que qualquer outra coisa. Não digo que seja impossível… mas está anos luz de ser algo comum, como talvez retratado em séries”.Entretanto ressalta que o amor entre médicos é muito comum, tendo ele casado inclusive casado com uma colega de faculdade, justamente por ter uma convivência próxima, e unida pelo meio profissional. Portanto, Derek e Meredith (Grey’s Anatomy) da vida real, podemos encontrar por aí.
Terminando o papo com o médico, perguntamos o que ele acha das condutas mostradas nas séries médicas, e se isso pode atrapalhar o meio profissional deles: “As séries que vi em nada prejudicam o meio. Já vi pacientes dizerem pra nós em um plantão às 3 da manhã, que entende nosso estado de cansaço porque viu na TV o quanto o George Clooney sofre num plantão. Claro que às vezes acontece de um paciente querer discutir uma conduta médica, baseada no que ele viu num capítulo de Grey’s Anatomy, por exemplo, mas eu pessoalmente acho isso bom. A gente senta e explica ao paciente que nem sempre as condutas nas séries são aplicáveis ao quadro do paciente e isso fortalece a nossa relação com ele”.
Apesar de cada uma ter seu estilo, podemos então começar a entender a fórmula do sucesso destas séries. ER por exemplo, se tornou famosa justamente por inovar a visão destes shows, e colocando o telespectador como se fosse um membro daquele plantão, em jogos de cenas que às vezes permitiam três ou quatro cenas serem filmadas de uma vez só. E não distante com Grey’s Anatomy, colocando a série para realçar um romance que muitas pessoas talvez se questionem ou fantasiam se os médicos realmente os vivem! Apesar disso, não impossibilitando vez ou outra colocar estes personagens para enfrentarem bombas, tiroteios e tornados… Ou o que falar do médico House que, mesmo ranzinza conquistou multidões com seus métodos questionáveis, mas com certeza interessantes?
O sucesso destas séries está exatamente aí: poder dar vida a este elo. Independente de cada visão das séries médicas, um de seus sucessos garantidos, é contar de uma forma bem particular um dia-dia de um médico, de uma clínica ou hospital, e trazer por pelo menos 40 minutos semanais, uma história para contar em torno disso. Histórias essas que com certeza fazem o público se emocionar com casos médicos, dramas, e experiências que estão aqui no nosso convívio. As séries médicas inclusive são as responsáveis por muitos jovens ingressarem nas faculdades de medicina, refletindo aí o seu grande sucesso.
Não existe um “plot repetido” na vida real. E mesmo que às vezes possa acontecer esta repetição nas séries, isso nada mais é, do que o nosso cotidiano. Por isso, as séries médicas são sempre fenômenos, e um gênero que com certeza está longe de se desgastar.
Fonte: Box de Séries.
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