Jump the Shark.
Toda série de TV tem a necessidade de prender a atenção do espectador quando se aproxima de um grande hiato. Isso é natural, dada a imensa capacidade humana de esquecer-se de voltar a assisti-las quanto maior o período que ela fica ausente. Por isso, quando o final do ano se aproxima, a maior parte das séries (em especial as da CW) procura elaborar um episódio que tenha ares de season finale, marcando o fim da primeira metade de suas temporadas. Mas, existem dois modos de controlar a ansiedade do público. O correto, trabalhando suas tramas de forma consistente, e o que Gossip Girl costuma adotar, procurando desesperadamente causar o maior impacto possível, seja como for. Infelizmente, Riding in Town Cars with Boys mostra que a série não possui a menor intenção de livrar-se de seus velhos problemas.
É inegável que o episódio tenha sido intenso. Recheado de acontecimentos, com praticamente todas os atuais arcos sendo trabalhados, o roteiro busca a todo momento encaminhar suas tramas para seus finais, para que, ao final do episódio, não reste pedra sobre pedra. Para isso, os roteiristas constroem seu texto sempre procurando fazer com que o espectador imagine estar assistindo ao final da temporada, explorando de maneira ágil situações como a que envolve a inevitável ruptura de Blair e Louis, bem como Dan ponderando se deve revelar seus sentimentos a ela, assim como o desfecho da trama de Charlie/Ivy.
Ao contrário de outras ocasiões em que Gossip Girl procurou explorar diversos temas, o que vemos aqui não é a esperada bagunça narrativa, com os roteiristas procurando manter o episódio em um ritmo aceitável e coerente durante a maior parte do tempo. Assim, o ritmo de acontecimentos jamais soa confuso, estabelecendo de maneira interessante as dinâmicas entre os personagens através de inteligentes relacionamentos entre as tramas, que se interligam de maneira eficaz ao procurar garantir a coesão do episódio. Dessa forma, o roteiro prende a atenção do espectador de maneira eficiente, mesmo que muitas vezes faça apostas erradas quanto ao desenvolvimento de suas histórias.
Uma delas é justamente a reaproximação entre Serena e Dan. Já disse inúmeras vezes como Gossip Girl tem a capacidade de jamais seguir em frente, sempre insistindo em antigas relações, como se o tempo todo buscasse recriar suas primeiras temporadas de maneira literal. E a série comprova essa tese ao exibir a garota reacendendo seus sentimentos por ele ao perceber, em um impressionante esforço de memória, que Dan fora o único namorado decente que ela tivera em toda a sua vida, o que a fez temer pelo resultado da relação entre o amigo e Blair, culminando em um momento típico da garota, fingindo se preocupar com a amiga, mas sempre dando preferência aos seus próprios interesses. Aliás, é incrível como o roteiro explora de maneira infeliz o conflito entre os dois, ignorando-o durante todos os episódios até resolver abordá-lo em uma única cena, já resolvendo a briga em seguida. Dessa forma, as alfinetadas trocadas entre eles jamais conseguem ser naturais, sempre dando a impressão de ser um truque dos roteiristas.
Da mesma maneira, Nate também não consegue convencer como um jornalista importante. Primeiramente, porque a transformação do personagem é feita de maneira excessivamente repentina, o que prejudica a coerência da situação. Além disso, o conflito familiar do personagem é ressuscitado de uma maneira que mostra o desespero da série em trazer algo interessante para o rapaz, já que parece haver a intenção de torná-lo um elemento importante da história em um futuro próximo. Assim, as manipulações organizadas por William acabam não acrescentando nada ao universo da série, prejudicando o desenvolvimento de Nate.
Mas é a trama de Ivy que traz os momentos de maior embaraço para Riding in Town Cars with Boys. Essa história, com plot que se aproxima perigosamente de uma novela mexicana, deveria ter se encerrado no episódio anterior, quando se abriu essa possibilidade. No entanto, com o desejo de estender inexplicavelmente a trama, os roteiristas preferiram explorar o recente amor da garota por sua nova família. Mas a presença de Max, aparecendo para praticamente todos os personagens como se fosse um fantasma, prejudica essa intenção, provocando a revelação da fraude de Charlie Rhodes de uma maneira tremendamente artificial, criando uma situação de anticlímax indesejada, o que faz com que a história perca todo o impacto que lhe restava.
Depois de discutidos praticamente todos os temas do episódio, podemos analisar profundamente o que realmente se destaca aqui, que é o quarteto formado por Blair, Chuck, Dan e Louis. O príncipe mal aparece aqui, e praticamente não possui função, mas os três primeiros se tornam os grandes protagonistas do episódio. É verdade que o romance entre Blair e Chuck é mais uma prova da insistência dos roteiristas em reciclar tramas, mas é inegável que os diálogos estabelecidos pelos dois consigam acertar em sua proposta, trazendo um tom melancólico necessário para que o episódio funcione. Também é fato que, embora a dinâmica entre Dan e Blair funcione, a atitude do rapaz é perfeitamente coerente com o que o personagem apresenta desde o início da série. No entanto, é impressionante como isso tudo deixa de funcionar no exato momento em que o casal mais explorado de Gossip Girl volta a existir de fato.
O que nos leva aos momentos finais do episódio. Esse é o único ponto em que o roteiro abandona suas preocupações com coerência e procura, inadvertidamente, acelerar seu ritmo freneticamente, tornando todas as situações confusas e sem sentido. Além disso, a pateticamente dirigida cena que leva ao acidente de Chuck e Blair possui o único propósito de causar choque no espectador, acontecendo de maneira repentina, ainda que com a estranha tentativa de mostrar ao público o porquê do acidente. Para piorar, a série ainda traz de volta, em mais um retorno aleatório de um personagem, a figura de Jack Bass, que sempre aparece na segunda metade da temporada (quando Desmond Harrington já concluiu as filmagens de Dexter), além de Diana, que não fazia falta alguma, apenas para rechear o final de ano com acontecimentos que, da forma como ocorrem, só causam revolta pela péssima maneira como foram construídos.
No entanto, é indiscutível a ousadia de Gossip Girl em matar um de seus principais personagens, se isso de fato ocorrer. Reparem que em nenhum momento alguém chega a dizer que Chuck morre, mostrando-se como um artifício para “ressuscitar” o rapaz caso isso seja conveniente para a série. Mas, se ele vier a falecer, é um passo interessante que os roteiristas tomam, saindo de sua zona de conforto para procurar desenvolver algo maior.
Assim, acertando em alguns aspectos e falhando em muitos outros, Gossip Girl se despediu de 2011 com um episódio que lembra fortemente Last Tango, Then Paris, season finale da terceira temporada, que marcou o início de uma terrível derrocada para a série. Prova que, mesmo tendo enganado o espectador durante algum tempo, Gossip Girl nunca abandonará suas irritantes manias.
Review feita por Gabriel Oliveira(do site Série Maníacos)
n falei q iam ressucitar o tripp?
ResponderExcluiraffs