quinta-feira, 7 de março de 2013

Imprensa: Artilharia Onipresente


Por Ágatha Lemos


O acesso à realidade do mundo em tempo de guerra se não é restrito é violado - ainda que pareça contraditória esta afirmativa, visto o apogeu da telecomunicação de nossa era.

A imprensa, como "co-participante" da guerra vigente, torna-se senhora e escrava, ao mesmo tempo, da mesma. Senhora porque é ela quem divulga o terror à grande massa; escrava porque, inevitavelmente, sofre uma sutil censura disfarçada sob a nomenclatura de um jornalismo responsável.

Qual face da imprensa tem predominado nos registros das guerras modernas? Dispensando os remotos arautos da velha história que contavam as batalhas antigas em que o seu senhor sempre era o herói, analisemos o papel da imprensa como formadora de opinião a partir do século XV, quando é inventada a pólvora e surge a máquina de impressão.




 




Sem menosprezar os episódios sangrentos da Revolução Francesa nem os outros inúmeros combates civis que compreendam o período entre os séculos XV e XVIII, a primeira participação da imprensa em guerras, segundo histórico feito pelo jornalista Sérgio Mattos, professor adjunto IV da Universidade Federal da Bahia, começa na Criméia, em 1854.


William Howard Russell, identificado como o primeiro correspondente de guerra, expunha os desastres à população em suas reportagens sem poupar à crítica ao exército britânico. Nesta época, William Codrington, comandante inglês, expediu uma ordem geral proibindo a publicação de pormenores de valor para o inimigo. Estabeleceu com esta ordem a censura militar.

Censura

A guerra civil americana também não escapou à censura. A transmissão de um despacho da Associated Press, que registrava uma derrota, foi substituído por uma vitória, sob as ordens do comandante das forças armadas dos nortistas.

Em seguida, o Ministério da Guerra, por meio de seu ministro, Edwin M. Stanton, passou a utilizar a censura. Stanton mandava prender editores, correspondentes e ameaçava os proprietários dos jornais, caso fossem desobedecidas suas orientações quanto à notificação de suas derrotas.



 

Quando entramos na Primeira Guerra Mundial, observamos a disseminação mais freqüente dos fatos devido ao telégrafo, que acelerava o processo. Nesta fase, os jornalistas que puderam ser correspondentes, exerciam sua função com restrições. Dos americanos, por exemplo, era exigido um juramento, feito na presença do secretário da Guerra, para que transmitissem a verdade e suprimissem qualquer fato que pudesse ajudar o inimigo.


Já os alemães deveriam esconder da população o que sofriam, iludindo-a quanto às intervenções americanas.

Na Primeira Guerra Mundial, além da dúvida acerca dos jornais e sua veracidade, sucederam-se outros incidentes relevantes. Os jornalistas, diante de toda a pressão a que foram submetidos graças à classe dominante e manipuladora da realidade, concluem que "a verdade é, tradicionalmente, a primeira vítima da guerra".

Conseqüentemente, e contrariamente ao desejo de muitos jornalistas em mostrar à sociedade a verdade de forma objetiva e sem cortes, a Segunda Guerra Mundial mantém e acentua a censura de diferentes maneiras.

A Inglaterra decide selecionar os correspondentes, sujeitando-os a conseqüências caso quebrassem os regulamentos por ela impostos. Enquanto isso, Goebbels, na Alemanha, corrompe os correspondentes com privilégios e mordomias. Censura interessante para os profissionais de ética vulnerável.

Fraqueza

Na Segunda Guerra Mundial, a imprensa, obedecendo à Inteligência Militar, mostra-se fraca ao exibir tragédias sob ângulos positivos, disfarçando derrotas e forjando estratégia onde havia fracasso.

Nos Estados Unidos, os jornalistas tinham acesso somente a informações previamente analisadas. O Departamento de Censura submetia jornais e emissoras de rádio ao Código de Prática de Tempo de Guerra.

Há tantas censuras para quantas guerras citadas. Guerra da Coréia (1950-1953), em que entrevistas realizadas com prisioneiros eram "revisadas" por censores. Guerra da Argélia (1954-1962), em que assassinatos diversos eram excluídos das matérias dos correspondentes e ainda edições eram apreendidas e jornalistas eram presos.

E a Guerra das Malvinas? Fitas e filmes confiscados, imprensa proibida de filmar a rendição Argentina, correspondentes que só podiam escrever o que lhes era ditado e coisas do tipo.



 

Não podemos esquecer a Guerra do Golfo, em 1991. Conflito cinematográfico; do monopólio (norte-americano) da informação. Guerra em que as dúvidas acerca dos fatos e imagens apresentados anulavam a comoção popular. Nela, a agência britânica de notícia, Reuters, não pôde anunciar o número de combatentes, navios, aviões e armamentos, graças à censura.


Depois de uma rasa retrospectiva da insensatez humana, novas linhas podem ser escritas para anunciar a próxima bomba com explosão marcada em contagem regressiva.

Cenário montado


 

O cenário, em tons avermelhados, já está montado. As personagens - Estados Unidos e Iraque - estão ensaiadas e prontas. O nome do filme: O Ataque.


O roteiro fala da ordem do presidente George W. Bush para que Saddam deixe o poder do Iraque, pois este armazena armas de destruição em massa e é suspeito de envolvimento em ataques terroristas. Nesse momento, provavelmente, bombas estarão sendo lançadas no território iraquiano, visando a rendição do ditador.

Mas, a crítica já tem alegado motivos implícitos neste enredo. Bush estaria movimentando uma guerra por motivos pessoais, uma vingança desde o tempo de seu avô, também "Bush", para que os Estados Unidos possam, como a Inglaterra e França, explorar o petróleo no Iraque. Há quem diga ainda que o presidente norte-americano propõe a guerra para justificar os gastos de sua campanha eleitoral que foram pagos pela indústria bélica dos Estados Unidos.

O público, com a pipoca na mão, aguardou ansiosamente a estréia. Hoje, a teve. Sentada diante do televisor, a platéia não questiona as imagens nem as falas. Somente ingere a pipoca e as cenas sem preocupação quanto à produção das mesmas. Satisfaz-se com a veracidade projetada na tela.

E a classe jornalística? Como se portará diante disso tudo? Será a censura, desta vez, aplicada sob a camuflagem do monopólio e oligopólio da informação? Que agência de notícias divulgará mais detalhes dos efeitos sócio-político-econômico deste drama que atinge a platéia mundial?



A globalização é para a comunicação também. Há mais versões para a guerra além da que os próprios causadores ou "produtores" queiram comunicar. Isto implica o direto da imprensa global em pelo menos esboçar a sua percepção da catástrofe. 

Direto do Site Canal da Imprensa.

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